Um festival a serviço da Consciência

Muito mais que mais um festival de circo, a segunda edição do Festival Internacional Diamantino de Circo representa também uma proposta de conscientização ecológica, social e, como não poderia ser diferente, artística e cultural. Para entender mais sobre a proposta consciente da “Arte que cura”, apresentamos a entrevista com Keke e Federica: artistas, colaboradores e, sobretudo, amantes da natureza e da arte.

- Qual a importância de um festival de arte circense trazer como uma de suas propostas iniciais a defesa de princípios como ecologia, reciclagem e conscientização ambiental?

KEKE: Na realidade, partimos da idéia de que a arte é um estado natural do homem capaz de produzir inúmeros processos.

Portanto, em primeiro lugar, entendemos a arte como parte integrante de uma totalidade que envolve também o meio ambiente, a ecologia, a prática da boa convivência com as pessoas e uma série de outros fatores. Inclusive, em analogia, poderíamos dizer que nós somos também a arte da terra.

Em segundo lugar, acreditamos que a arte tem uma responsabilidade.

- E qual seria essa responsabilidade?

KEKE: Bem, existem distintos tipos de arte. Eu faço a arte cura. A arte que, através de suas diferentes formas de expressão, é capaz de tocar e até mudar a realidade.

Hollywood também é arte, não é? Mas enxergo de uma maneira diferente da arte que nos propomos a fazer aqui. Imagino o artista como um espelho. Ele pode refletir o sol, os rios, ou pode optar por restringir-se a refletir a si mesmo e todas suas limitações humanas.

Nesse festival nos dedicamos a assumir a responsabilidade da arte como algo que nos eleva e, de certa forma, nos “liga com a matriz”, mas que também capaz de motivar processos, atitudes e uma tomada de consciência.

- O Estatuto do Festival, então, representa o que seria essa consciência?

FEDERICA: Sim. A consciência é uma caminhada. O Estatuto é fruto de uma caminhada coletiva de diversos artistas envolvidos com a proposta do Festival. Um corpo de opiniões e propostas.

Inclusive, a graça deste festival é a proposta de carregarmos a consciência no que falamos e fazemos. Este ano nos preocupamos em dizer, praticar e manifestar o que pensamos. Por isso o estatuto foi elaborado de maneira mais propositiva. Queremos dizer mais “sim” que “não”.

- E como o festival, circo, seus artistas, trabalha esta mensagem em seus espetáculos?

FEDERICA: Para começar, muito de nossos espetáculos é montado a partir de material reciclado. De cenários a figurinos. E pela inspiração cotidiana que temos aqui na chapada, pela convivência e o contato com a natureza essa consciência ambiental se reproduz naturalmente na forma como imaginamos e realizamos nossa arte.

KEKE: Vejo o artista também como um recipiente que absorve e devolve as coisas com as quais tem contato. Sensações, experiências, vivências e etc. Aqui, muito mais forte que em outros lugares, a terra inspira o artista. Nós, portanto, somos apenas um canal de mensagem da própria natureza.

A arte nos serve como instrumento para transmitir essa mensagem. Acredito que a melhor forma de aprender seja através da sedução. E é justamente o que a arte faz. Ela seduz.

Costumo comparar a arte o traje de banho feminino. Ela não revela totalmente, ela apenas mexe com as sensações e provoca interesse e curiosidade. Nós, artistas, temos a missão de abrir caminhos para valores que perdurem independentemente de pessoas. Por isso, no Festival, nos empenhamos todos para promover uma festa que comungue arte e natureza! É essa a mensagem que queremos passar. É o que acreditamos ser a arte que cura.